A performance gera críticas sobre a banalização de eventos acadêmicos e o desvio de foco das discussões intelectuais
Um vídeo que circula nas redes sociais, mostrando a historiadora, cantora e compositora Tertuliana Lustosa realizando uma dança erótica durante uma palestra na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), gerou uma onda de críticas e questionamentos sobre a adequação de sua performance no contexto acadêmico. O uso de um vestido curto que destacou suas curvas, principalmente o bumbum, foi visto por muitos como uma distração e desvio de foco em um evento que deveria promover reflexões sérias sobre gênero e suas interseccionalidades.
O evento, organizado pelo Grupo de Pesquisa Epistemologia da Antropologia, Etnologia e Política (GAEP/CNPq) e coordenado pela professora Dra. Ana Caroline Amorim Oliveira, tinha como objetivo reunir acadêmicos e ativistas para discutir questões profundas sobre dissidências de gênero, com enfoque nas perspectivas do Sul Global. No entanto, a apresentação de Lustosa rapidamente roubou a cena, desviando as atenções para o espetáculo performático, o que muitos críticos consideram um esvaziamento das discussões propostas.
A viralização do vídeo nas redes sociais evidenciou um desconforto crescente em torno do que alguns classificam como uma "espetacularização" dos espaços acadêmicos, onde as discussões intelectuais acabam ofuscadas por gestos provocativos que buscam mais o impacto midiático do que o avanço no debate. “Esse tipo de performance desvia o propósito de eventos como este, transformando o que deveria ser um espaço de troca de conhecimento em um palco para autopromoção”, comentou um acadêmico em uma rede social.
Enquanto alguns defendem a performance de Tertuliana Lustosa como uma forma legítima de questionamento às normas conservadoras, a crítica principal reside no fato de que a apresentação parece ter banalizado a seriedade do evento. “Não é sobre proibir expressões artísticas, mas questionar se o espaço e o momento eram apropriados”, afirmou uma participante do evento. Para muitos, a apresentação afastou o foco das questões centrais, como a interseccionalidade de gênero e as perspectivas decoloniais que deveriam nortear a discussão.
A performance também levantou discussões mais amplas sobre os limites entre ativismo artístico e academicismo. Há quem argumente que momentos como esse enfraquecem a legitimidade dos espaços acadêmicos como locais de produção de conhecimento sério e respeitável, especialmente quando a busca por viralização nas redes sociais parece prevalecer sobre o conteúdo intelectual proposto.
Em meio às críticas, Tertuliana Lustosa mantém-se como uma figura controversa, cuja mistura de arte e ativismo desafia convenções, mas também gera incômodo sobre o que se espera de eventos acadêmicos. A pergunta que permanece no ar é se a performance artística deve ser celebrada como um gesto de resistência ou se, nesse caso, contribuiu para a diluição das pautas intelectuais que o evento se propôs a abordar.